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Casa nova, bagagem nova!


No dia 1 de maio de 2015 fomos para o apartamento que seria nosso primeiro endereço fixo. Alugamos somente um quarto, pois é o que recém-chegados costumam conseguir para os primeiros meses. Dividiríamos o apartamento com dois rapazes, claro que a ideia não agradava nenhum pouco, mas estávamos há uma semana em um hostel, no bairro das Antas, no Porto, diga-se de passagem, um lugar lindo que cheirava a rosas e tinha um ar tranquilo em suas ruas de paralelepípedos. Vale ressaltar o quanto os anfitriões do lugar faziam com que nos sentíssemos em casa. Eram super atenciosos e amáveis, estavam por lá sempre a Ana, seu pai e um outro senhor que parecia ser amigo da família e estava sempre a trabalhar nas arrumações. Mesmo sendo dos mais em conta, este hostel nos saía um pouco caro, sendo assim, acabamos por ir atrás do primeiro anúncio que nos pareceu viável financeiramente, um apartamento em Gandra, próximo à Paredes, local maravilhoso e cheio de rosas - aquelas foram as ruas mais perfumadas por onde já andamos em nossas vidas - assim como a maior parte do norte de Portugal. E lá fomos nós, o dono do apartamento foi muito prestativo, nos buscou com seu próprio carro, num dia chuvoso, nos levou ao apartamento e nos acomodou. Não lembro exatamente os dias em que conhecemos os outros moradores, Márcio e Tiago, mas lembro que o Márcio foi o primeiro, sempre na dele e de falar pouco, acordava, ia trabalhar, voltava, almoçava, ia para trabalho, voltava, jantava, exatamente deste jeito, todos os dias. O Tiago, conhecemos uns dias depois mais comunicativo, falador, saía cedo e voltava tarde, algumas vezes ainda o víamos chegando e saindo de novo, dias raros. Como não conseguíamos emprego e, não podíamos gastar o pouco dinheiro que tínhamos, ficávamos a maior parte do tempo em casa. Minha preocupação em dividir o espaço com dois outros homens, passou rapidamente, pois passamos a ter confiança e interagir mais com eles. Preocupação esta que voltou-se para a falta de trabalho, não tínhamos nenhum conhecido além dos dois, estávamos a própria sorte, a mesma que não ajudou muito durante um mês e meio em que convivemos com os dois. Eles nos chamaram algumas vezes para bebermos umas cervejas, mas sempre recusávamos, para evitar gastos. Ao optamos por viajar para tentar a sorte em Lisboa, decidimos aceitar e saímos com os rapazes pouco antes de nos mudarmos, foi agradável e muito culto, nos falaram sobre os costumes, cultura e arquitetura do Porto.

Viajamos meio que as pressas para não gostarmos mais, num lugar sem retorno, esta correria nos custou alguns dias de preocupação, que foi quando entramos naquele quarto onde o apartamento era um chiqueiro. O próximo endereço "fixo" seria na Avenida Defensores de Chaves, no Saldanha, endereço nobre, no centro de Lisboa. O casal que nos acolheu nos deu dicas importantes de como nos virarmos, além deles, no apartamento também haviam mais dois casais, André e Susana e Sérgio e Maria João, todos muito tranquilos, pessoas das quais não poderíamos reclamar, mesmo porque, o que mais acontecia era, dividirmos os espaços comuns e não necessariamente convivermos com todos eles. No começo é bom, nos sentimos confortáveis, não temos todas as preocupações que temos quando temos nossa própria casa, os quartos geralmente vêm com as contas incluídas nos seus preços além de água, luz, Internet, gás, nossa única preocupação é entrar e pagar. Mas com o passar dos meses, começamos a sentir falta de liberdade, pois só temos liberdade dentro de nosso quarto, passamos a nos sentir meio, presos. Com cinco ou seis meses a vontade é de ficar um pouco mais no trabalho ou mesmo ir para a casa a pé só pra demorar um pouco mais, temos nossa intimidade e liberdade diminuídas, esse é um dos preços a se pagar, há quem não ligue, mas acredito que de modo geral, a maioria preferiria ter suas próprias casas. Neste tempo, pessoas iram, pessoas viram, pessoas iram e viram, por fim éramos nove pessoas num apartamento de 5 quartos, tínhamos de dividir o tempo e, dividir muito bem, pois ficava apertado para cozinhar, para arrumar a bagunça da cozinha, para usar o banheiro, para escovar os dentes, tomar banho, fica mesmo difícil. A ideia de achar um lugar só nosso é cada mais frequente, mas sempre barrada pela falta de documentos, sem um contrato de trabalho e número de contribuinte é praticamente impossível alugar uma moradia. Todas as contas ficam em nome dos arrendatários, sendo assim, se você não comprovar formas de se manter, não consegue nada. Um contrato veio logo no começo da mudança para Lisboa, mas o segundo demorou um bocado. Assim que apareceu uma promessa de contrato, mais que depressa começamos a procurar uma casa. A primeira coisa que passou pela cabeça foi continuar próximos de onde estávamos, mas era um lugar extremamente caro e, com o passar do tempo fomos vendo que era movimentado demais, nossa ideia sempre foi buscar algo tranquilo, muita paz, ar puro, muito verde. Começamos procurando um pouco mais ao norte de Lisboa, mas o transporte não ajudava muito, nossos horários dos trabalhos, também não.

Mudamos nossa pesquisa para a margem sul, onde já tínhamos visitado antes em uma de nossas procuras e, foi então que começou o planejamento, já tínhamos os empregos, tínhamos um alvo, agora era só por em prática. Encontramos um apartamento de dois quartos, pois nossa ideia Inicial era que uma amiga nossa fosse morar conosco, a Natiely - uma amiga brasileira muito risonha, foi então que fechamos o contrato com o Hugo, sobrinho dos donos do imóvel, que ficou responsável por locá-lo, super atencioso desde o primeiro contato, descontraído, honesto, uma excelente pessoa, que aos poucos vem virando nosso mais novo amigo português. Nossa amiga acabou por desistir em compartilhar a casa conosco, ficamos tristes, pois ela é uma ótima pessoa, por outro lado, felizes, porque agora teremos um escritório/quarto de hóspedes e, poderemos receber as tão sonhadas visitas de nossos familiares.

Visitamos o imóvel, assinamos o contrato, pegamos as chaves, era indescritível a sensação, estávamos nos tornando independentes. No último dia 1, um ano após alugarmos nosso primeiro quarto, nos mudamos para a nossa nova casa, que aos poucos está ficando linda, perfeita, do nosso jeito. Nossa nova curtição é ir e voltar de nossos trabalhos, de barco, atravessamos o rio Tejo todos os dias é uma das viagens da qual não abrimos mão. Para chegarmos ao cais do Seixal caminhamos/corremos por quase quatro quilômetros ao redor de uma baía, nunca vamos nos cansar de ver a água, os barcos, a margem norte, essa, agora é a nossa vida, o nosso dia a dia.


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